Tensões geopolíticas abalam o agronegócio americano
- Index Political Risk
- 17 de nov.
- 3 min de leitura
RISCO PARA O BRASIL: MÉDIO
→ O agronegócio dos EUA sofreu forte queda nas exportações para a China e aumento dos custos de produção, levando produtores a registrar prejuízos mesmo com safras recordes. Secas, fertilizantes caros e menor oferta de mão de obra agravaram o cenário. Após a cúpula da ASEAN, a sinalização de retomada das compras chinesas trouxe algum alívio ao setor.
→ A retomada das exportações dos EUA para a China alivia os produtores, mas a volatilidade permanece devido às tensões comerciais. Os custos de produção elevados devem pressionar as margens dos agricultores até 2026, com oferta de insumos ainda frágil. A pressão econômica pode gerar protestos e lobby por mais subsídios e apoio fiscal do governo.
Escrito por Daniel Meyer e Gustavo Macedo

Agronegócio americano se prejudica diante de tensões geopolíticas
O agronegócio estadunidense, altamente dependente do comércio internacional, com aproximadamente 20% da sua produção destinada à exportação, vem sofrendo diante dos cortes de importações chinesas em resposta às tarifas aplicadas pelo presidente Donald Trump. Como externalidade negativa dessa política, as exportações de commodities agrícolas para a China devem cair 30% em relação a 2025 e até 50% em relação a 2022.
Custos elevados e perdas crescentes
Mesmo diante de recordes nas safras americanas, muitos cultivadores norte-americanos estão perdendo mais de 100 dólares por acre, devido à queda de preços e à perda do seu maior parceiro comercial. Isso ocorre em um contexto de altos custos de produção, impulsionados pela valorização dos preços de fertilizantes, escassos desde o conflito Rússia-Ucrânia, e pelos maiores custos de transporte e mão de obra afetada por políticas migratórias mais rígidas que reduziram a disponibilidade de trabalhadores imigrantes, que representavam cerca de 60% da força de trabalho agrícola. As secas em alguns estados agrícolas culminaram em uma elevação dos preços das carnes, levando o governo americano a procurar alternativas para minimizar o aumento de preços causado pelo choque de oferta, especialmente em países como Brasil e Argentina.
Otimismo após reuniões na ASEAN
Na semana passada, após um encontro na cúpula da ASEAN com Trump, a China acordou em retomar a compra de soja americana, cultura majoritária nas exportações do agronegócio dos EUA, trazendo esperança aos fazendeiros após um ano em que o país asiático não comprou soja, trigo, sorgo e milho. Além disso, países como Malásia, Camboja e Vietnã se comprometeram a ampliar a entrada de exportações americanas, reforçando o otimismo diante das incertezas do mercado.
O que a Index prevê?
A recuperação parcial das exportações americanas para a China deve aliviar as pressões de caixa dos produtores, mas não eliminará a volatilidade. A retomada das compras sinalizada na cúpula da ASEAN tende a estabilizar os preços da soja no curto prazo; porém, o ritmo das importações dependerá da evolução das tensões comerciais e pode sofrer interrupções caso haja novos embates tarifários.
Os custos elevados de fertilizantes, transporte e mão de obra devem continuar pressionando as margens dos agricultores até o fim de 2026, mesmo com condições climáticas mais favoráveis. A exposição do setor ao conflito Rússia–Ucrânia e às políticas migratórias mais rígidas nos EUA sugere que a recomposição de oferta de insumos ocorrerá apenas de forma gradual. O setor permanecerá vulnerável a choques de oferta e inflação de custos.
A manutenção dessa pressão econômica aumenta o risco de protestos e lobby político de associações agrícolas, sobretudo nos estados do Meio-Oeste, caso o governo Trump (ou seu sucessor) não avance em políticas de subsídios, flexibilização regulatória e facilitação da entrada de trabalhadores migrantes. Os custos sociais dessa insatisfação podem gerar resistência ao ritmo das reformas e pressionar o Congresso por apoio fiscal ao setor.
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