Situação da política doméstica israelense no pós-cessar fogo
- Index Political Risk
- 1 de dez.
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RISCO PARA O BRASIL: BAIXO
→ Apesar dos esforços na Faixa de Gaza para o resgate de reféns israelenses e do aumento da popularidade de Netanyahu, sua governabilidade está comprometida uma vez que sua coalizão e parte da opinião pública desaprovam a atuação insuficiente em derrotar o Hamas. O primeiro-ministro israelense, após se envolver em escândalos de corrupção, tem sua reeleição ameaçada caso seja condenado.
→ Em prol de sua popularidade, Netanyahu deve continuar os esforços em Gaza, ainda que de maneira mais contida, contrariando Trump. As tensões entre Israel e Irã devem escalar, visto que Netanyahu busca precedentes para alavancar sua aprovação que tende a se deteriorar com a reorientação da opinião pública para aspectos domésticos, a fim de evitar o surgimento de uma oposição radical.
Escrito por Beatriz Graner, Érico Mazzini e João Mário Bernardes

Repercussões dos conflitos na política interna:
A posição de Netanyahu na opinião pública israelense está relativamente comprometida, visto que sua atuação no conflito na Faixa de Gaza é tida como ineficiente em trazer a “vitória total” a Israel na luta contra o Hamas, e diplomaticamente dependente de Trump. Apesar de Netanyahu considerar a guerra necessária para garantir a sua reeleição a fim de favorecer os interesses da população, contrariar o direcionamento de Trump pode desestabilizar suas relações com os EUA. Com o conflito com a Faixa de Gaza encaminhado para o terceiro ano, Netanyahu encontra-se em um dilema: se retirar de Gaza, e consequentemente, atender aos interesses americanos, ou se engajar em um conflito altamente desgastante para o exército com o objetivo de destruir o Hamas. A guerra de 12 dias entre Irã e Israel repercute na política doméstica israelense, porque após a saída do Irã do Acordo do Cairo, Netanyahu precisa considerar como manejar alguma relação pacífica com o Estado iraniano ao passo que se prepara para a iminência de uma nova escalada de maior transbordamento regional e para o estabelecimento de um conflito entre os dois países.
Coalizão dividida e popularidade em alta:
Após a libertação dos reféns, o primeiro-ministro vê seu governo em um momento ambíguo, se por um lado a aprovação de seu nome alcançou os maiores índices desde sua reeleição, por outro ecoam críticas estruturais na sociedade israelense e dentro de sua própria coalizão de que o objetivo de destruição do Hamas não teria sido atingido. Além disso, diversos manifestantes se reuniram na “Marcha de um milhão", contra a recente derrubada da isenção militar para religiosos, estratégia adotada pelo premiê para suprir a falta de pessoal existente na IDF. Para além das repercussões nas ruas israelenses, a própria coalizão governista é composta por partidos ultraortodoxos que ameaçam abandonar a base desde a imposição da medida. O modo de agir do governo frente a essa crise é calculado, repressões mais duras às manifestações e punições aos desertores provocariam a dissolução do Knesset, enquanto a permanência em se omitir se torna alvo de questionamentos do Judiciário. Cabe ressaltar também que Netanyahu foi indiciado por corrupção e desde o cessar-fogo seu julgamento foi retomado, tendo sério risco de ser condenado e perder seus direitos políticos. Por esse motivo, Netanyahu solicitou no dia 30/11 ao presidente Isaac Herzog um indulto para atender ao “interesse nacional”.
Perspectivas acerca das eleições em 2026:
Com o cessar-fogo realizado, o “shift” político de Netanyahu irá se atentar menos a problemas de segurança externa e mais para a resolução de questões domésticas. Netanyahu se preocupa com a questão do balanço econômico, que será decidido no dia 4 de dezembro em reunião com o ministro das finanças, Bezalel Smotrich. O orçamento é uma ferramenta importante para a campanha eleitoral de Netanyahu, visto que a reconstrução de Israel após o conflito e o desejo de amenizar o alto custo de vida do país são estratégias que o primeiro-ministro busca para alavancar sua popularidade. Entretanto, por um outro lado, Smotrich mantém-se relutante a aumentar o orçamento, já que o ministério projetou um déficit de 3,2% para o próximo ano. A crescente insatisfação popular contra a ausência de uma “vitória total” contra Hamas possibilitou a ascensão de uma oposição mais radical. Políticos como Ohad Tal apresentam-se como opções extremistas para as eleições de 2026. Dessa forma, o cenário eleitoral israelense dependerá da capacidade de Netanyahu administrar as insatisfações, as pressões econômicas sobre o novo orçamento e fissuras dentro de sua coalizão. Esses fatores determinarão a sobrevivência política do primeiro-ministro ou um novo rumo do sistema partidário israelense.
O que a Index prevê?
Tendo em vista as eleições em outubro de 2026, Netanyahu continuará os esforços em Gaza, o que torna o cessar-fogo de Trump altamente instável;
As relações entre Israel e Irã se tornarão mais tensas, uma vez que as incertezas acerca do programa nuclear iraniano abrem precedentes para que Netanyahu escalone em um conflito com o país;
A opinião pública sobre a política externa de Netanyahu representa boa parte do cálculo do primeiro-ministro israelense, já que esta se mostra descontente com a instabilidade política em Gaza;
O aumento na popularidade de Netanyahu não deve se sustentar no longo prazo, à medida em que a imagem do premiê se desgastar por conta dos casos de corrupção e a libertação dos reféns não for mais uma pauta central para a política de Israel;
A concessão de um indulto a Netanyahu é altamente improvável sem que haja uma admissão formal de culpa ou que seu julgamento seja concluído;
O partido de Netanyahu, Likud, deve se consolidar como maior partido do Knesset nas próximas eleições, mas sem conseguir alcançar a maioria das cadeiras e com grande dificuldade de formar uma coalizão por dificuldades no diálogo com os partidos ultra ortodoxos e também com as siglas árabes e liberais.
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